Trabalhadores da educação de todo país fazem campanha em defesa da vida e lutam contra retomada das aulas presenciais. Escolas não têm condições de seguir protocolos de segurança contra Covid-19, alertam
Em diversos estados brasileiros, os governos têm alterado constantemente a data do retorno das aulas presenciais e adiado a volta às escolas devido ao risco de agravamento da pandemia do novo coronavírus, que já matou mais de 122.596 pessoas e infectou outras 3.950.931.
Experiências nacionais, como a do Amazonas, e internacionais mostram que o risco é eminente, ainda mais quando governos não priorizam adequar as condições de segurança e proteção da vida de trabalhadores e alunos à volta as aulas presenciais, como nos casos do Rio Grande do Sul e São Paulo, de acordo com estudos feitos por sindicatos CUTistas.
No Rio Grande do Sul, onde foi anunciado nesta terça-feira (1) o retorno das aulas presenciais para 8 de setembro, os professores e as professoras já trabalham em esquema de plantão, apesar da curva de contaminação da Covid-19, doença provocada pelo vírus, não apresentar redução expressiva e a transmissão comunitária permanecer fora de controle. Para complicar ainda mais a situação, estudos mostram que o Estado, governado por Eduardo Leite (PSDB), não tem condição sanitária adequada e o retorno é considerado precipitado.
Uma análise do Dieese sobre os resultados da pesquisa desenvolvida pelo Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul (CPERS) mostra que em 16,2% das 142 escolas da rede estadual a Covid-19 já contaminou educadores e educadoras. Além disso, em 75,5% das situações, as escolas não providenciaram higienização do espaço escolar.
Outros dados do estudo mostram que 71% das instituições não forneceram máscara com a frequência necessária para todos os trabalhadores no período e plantão e 81% das direções declararam que as escolas não têm número adequado de profissionais de limpeza para realizar a higienização necessária na volta das atividades presenciais.
“Além de toda esta comprovação sanitária inadequada de que o estado não tem condições de voltas às aulas agora, nós temos uma outra pesquisa que mostra que 84% dos pais não vão deixar seus filhos voltarem às escolas enquanto não tiver vacina. E é baseado nestes estudos que a gente vem trabalhando. Vai ser muito difícil deflagrar greve porque já fizemos este ano e governo descontou agora em julho os dias, mas a categoria está muito resistente e iremos continuar na luta pelas vidas”, afirmou a presidenta do CPERS, Helenir Schürer.
Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB), anunciou um retorno gradual a partir de 8 de setembro, mas segundo levantamento realizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e o Dieese, a pedido do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), a atual infraestrutura das escolas estaduais não permite o estabelecimento dos protocolos de segurança mínima para que se reduza o risco de contágio da Covid-19.
Do total de 5.209 unidades escolares mapeadas, 99% delas não possuem enfermaria, consultório médico ou ambulatório. Além de que 82% das escolas não têm mais do que dois sanitários para uso dos estudantes. O estudo conclui ainda que pelo menos 93,4% das turmas teriam de ser adequadas para obedecer o distanciamento mínimo de 1,5 metro entre os alunos, recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“É evidente a tentativa de coação sobre as equipes escolares para o retorno. Ignorando evidências e recomendações científicas, ignorando o fato de que 79% da população não deseja a volta às aulas presenciais durante a pandemia, o Secretário leva adiante uma política irresponsável de abrir as escolas”, disse em suas redes sociais a presidenta da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha (Bebel).
“Na próxima quinta-feira me reunirei com o Secretário da Educação, quando tratarei deste assunto. Não permitirei nenhuma manobra que culmine em chantagem com a categoria, precarizada durante mais de duas décadas de governos do PSDB”, completou Bebel.
Sindicatos se mobilizam para a resistência em defesa da vida
A Secretária-Geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), Fátima Silva, disse que a entidade está orientando que o retorno às escolas só deverá acontecer se os governos estiverem condições sanitárias adequadas e assegurarem a segurança e a vida dos trabalhadores e dos estudantes.
“A gente mantém um diálogo frequente com os sindicatos e a situação do país ainda não permite este retorno das aulas presenciais. Muitas escolas não tem ventilação, não tem EPIs, não tem testagem e muito menos controle da doença. Além do governo de Bolsonaro ter feito descaso e ignorado a situação, as experiências que temos no mundo e até no Brasil nos mostram que a volta às escolas agravará a pandemia”, afirmou Fátima.
“A CNTE tem sido muito clara, enquanto tiver riscos de contaminação em massa nos estados e os governadores insistirem no retorno das aulas presenciais os trabalhadores e as trabalhadoras da educação devem fazer greve pela vida”.
E a opinião pública está alinhada com a decisão da CNTE, como mostra pesquisa do Datafolha. Para 79% dos brasileiros, a reabertura das escolas no país vai piorar a pandemia no Brasil e, por isso, as unidades deveriam continuar fechadas nos próximos dois meses. O levantamento mostra ainda que a preferência pela retomada das atividades escolares não é majoritária em nenhum dos segmentos pesquisados.
Dos entrevistados, 59% disseram crer que a retomada das aulas presenciais piorará muito a situação sanitária do país, e outros 20%, um pouco. Outro estudo, liderado por pesquisadores sulcoreanos da área de pediatria, indica que crianças e adolescentes estão associados à propagação silenciosa da Covid-19.
No Rio de Janeiro, a data do retorno às escolas públicas ainda não está definida, porém os trabalhadores e as trabalhadoras da educação dizem que só voltarão quando tiver condições sanitárias adequadas e é neste sentido que o Sindicato dos Professores do Município (SinproRio) está atuando.
Segundo a delegada sindical do SinproRio e vice-presidenta da CUT no Estado do Rio de Janeiro, Maria Eduarda Quiroga, a Duda, os sindicatos têm participado de reuniões com o governo e discutido as medidas de segurança e sanitárias para o retorno há meses.
Além disso, uma greve da categoria contra as aulas presencias está na justiça e a entidade tem levado outra coisa importante em consideração, segundo Duda: a opinião de pais e alunos. “70% dos responsáveis disseram não querem o retorno das aulas presenciais para este ano e assim como a gente é para defender vidas sem prejudicar o processo pedagógico. Aulas se recuperam, vidas não”, afirma.
No Pará, onde o ensino público adiou mais uma vez o retorno das aulas presenciais para outubro, o diretor do Sindicatos dos Professores da Rede Privada de Ensino do Pará (Sinpro) e secretário de comunicação da CUT no estado, Glauber Sávio Silva, disse que os trabalhadores da educação também se posicionam contra as aulas presenciais e estarão atentos às decisões do governo e às consequências das medidas.
“Primeiramente a defesa da vida de todas e todas, do trabalho do profissional da educação, seja ele público ou privado, e é claro que sejam implementadas medidas mais cautelosos, no sentido de conter essa ameaça, pois a pandemia de coronavírus não acabou. Acreditamos que enquanto não houver vacina fica complicado fazer uma exposição diante de um problema de saúde que ainda permanece”, afirmou.
A decisão de adiar o reinício das aulas presenciais em Santa Catarina para 12 de outubro confirma a visões de especialistas que apontam que o momento atual da pandemia do novo coronavírus no Estado não é favorável para uma retomada das atividades nas escolas.
O coordenador estadual do Sindicato dos Trabalhadores da Educação de SC (Sinte-SC), Luiz Carlos Vieira, disse que além disso, o governo não disponibilizou testagem para a comunidade escolar, não tem leitos suficientes disponíveis na UTI, caso agrave os casos. E ainda, afirma o dirigente, diretrizes apontam que são altas as possibilidades de piorar a situação da pandemia caso estudantes e trabalhadores retornem às escolas.
“O comitê de volta às aulas que foi criado com várias entidades para discutir as diretrizes de retorno, inclusive com a secretaria de saúde e educação e vigilância sanitária, aponta que não é hora de voltar. E se o governador [Carlos Moisés (PSL)] insistir neste retorno não voltaremos. Vamos chamar assembleias e discutir isso com todos os envolvidos com objetivo de salvar vidas”, afirma.
O Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação do Ceará (Sindiute) aprovou, na última segunda-feira (31), indicativo de greve dos professores municipais caso aulas presenciais retornem em Fortaleza. Segundo a dirigente do sindicato, Gardênia Baima, a luta é pela vida dos trabalhadores da educação, alunos e pais que circulam nas escolas.
“Nós vamos nos dedicar a este debate com os munícipes, mesmo não tendo data oficial para voltar às escolas. Com a decisão da categoria nós vamos comunicar a prefeitura e dizer que queremos continuar com o ensino remoto neste momento da pandemia. E se o governo decretar esta volta, decidimos que rediscutiremos a situação e, a luz da decisão da CNTE, iremos lutar com greve e paralisações em defesa da vida”, afirma a dirigente, que ressalta:
“As crianças são vetores e não podemos permitir que a gente regrida no que já conquistamos, que é a queda de contaminação da doença na cidade, queremos contribuir com a erradicação deste vírus.
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