O professor no Brasil ganha pouco. Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os professores brasileiros estão entre os que detêm menor remuneração entre as nações desenvolvidas ou em processo de desenvolvimento.
Ao mesmo tempo, os profissionais da educação acabam cumprindo as maiores jornadas de trabalho em sala de aula, convivendo com a violência e com condições de trabalho extremamente precárias.
“Que este dia sirva de reflexão para que possamos seguir firmes e determinados para transformar o mundo em que vivemos. Esta é uma profissão que ajuda a formar cidadão e cidadã. Esse é o nosso trabalho: cuidar e formar as pessoas para viverem com dignidade”, destaca Heleno Araújo, presidente da Confederação Nacional do Trabalhador em Educação (CNTE). Para ele, a pandemia do Covid-19 pode mostrar a importância da profissão para a população brasileira.
Ao se referir a valores anuais, o relatório da OCDE aponta que no Brasil, os salários reais médios dos professores chegam a US$ 24.765 no ensino infantil (inferior à média da OCDE de US$ 38.677), US$ 25.005 no ensino fundamental inicial (inferior à média da OCDE de US$ 43.942), US$ 25.272 no fundamental anos finais (inferior à média da OCDE de US$ 46.225) e US$ 25.966 no ensino médio (inferior à média da OCDE de US$ 49.778).
Orçamento para 2021
Em agosto deste ano, o governo Bolsonaro encaminhou ao Congresso o projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA), com previsão de gastos para educação em 2021. Segundo a proposta, serão destinados R$ 144,5 bilhões à educação.
No entanto, uma nota técnica da Coalizão Direitos Valem Mais apresentou um estudo indicando um conjunto de propostas a fim de fortalecer a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual 2021, dentro do contexto da pandemia para garantir o cumprimento de diretios sociais da população, dentre eles, a educação.
Na pasta da Educação, a proposta prevê R$ 181,4 bilhões, contra R$ 144,5 bi encaminhados pelo governo (LOA). Esse montante recomendado pela Coalizão servirá para que a política de educação se organize para a retomada das escolas com menor número de alunos por turma (segundo a OCDE, o Brasil é um dos países com o maior numero de estudantes por turma), maior número de profissionais de educação, adequação das escolas para o cumprimento de protocolos de segurança e proteção, ampliação da cobertura de acesso à internet de banda larga para os estudantes da educação básica e ensino superior no país, retomada dos programas de assistência e permanência estudantil na educação básica e no ensino superior.
Fora da sala de aula
Segundo dados da Pnad/IBGE 2019 e do Censo Escolar, o Brasil possui cerca de 77 milhões de pessoas com mais de 18 anos de idade sem ter concluído a educação básica; 23% dos jovens entre 15 e 17 anos não estudam e nem trabalham; mais de 60% das crianças entre 0 e 3 anos de idade não frequentam a creche; quase três milhões de meninos e meninas de 5 a 14 anos são vítimas do trabalho infantil e estão fora da escola.
Mônica Correa Rentschler, professora aposentada da rede municipal de educação infantil e fudamental, e de jovens e adultos, sempre trabalhou nas escolas periféricas de Santo Andŕé, região do ABC paulista. Sua trajetória profissional foi marcada por ensinar e atender estudantes de famílias vulnerabilizadas pela pobreza.
“Quando você tem uma proposta onde há inclusão da comunidade, procurando atender pais e alunos, você cumpre um papel que não é só o de levar conhecimento, mas de compartilhar. Foram trinta e cinco anos de exercício na área de educação e só tenho a agradecer”.
Ela conta que teve a sorte de participar de um projeto, na prefeitura de Santo Andŕe, com a proposta de aliar a teoria com a prática. “Nós, professores da rede, colocávamos a prática da sala de aula juntamente com pedagogos para reflexões. Com isso, tive condições de me formar, por meio do projeto, em Pedagogia”, disse. Mônica fez ainda duas pós-graduações na área com apoio do poder público municipal. Ela está aposentada há três anos.
(Reconta aí, 15/10/2020)