Julho é o mês dedicado a Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. E mulheres de pele de cor preta vem sendo motivo de orgulho, principalmente nas Olimpíadas de Tokyo, local que apresenta o esporte de cada país, mas que afirma o valor histórico de cada nação: seu avanços e retrocessos sociais.
Nos jogos do Japão, vibramos com a vitória de Rebeca Andrade – primeira mulher a receber medalha na ginástica – e Rayssa Leal – menina de 13 anos, a mais nova a ganhar medalha pelo Brasil na modalidade do Skate. Acompanhamos também a superação da pioneira Daine dos Santos, campeã mundial na ginástica.
Se celebraria também o aniversário de vida da vereadora Marielle Franco, que teve sua vida abruptamente interrompida e sua voz calada por um crime que chocou o Brasil e que até hoje não houve desfecho.
O orgulho no esporte, na política, na arte na militância contrasta com a nossa realidade. Ainda ocupamos majoritariamente os cargos que servem a mesa e as casas dos brancos; não somos maiores em escolas privadas e universidades; pouco somos convidadas para debates de contribuição científica e tecnológica. Sempre reduzidamente associadas ao samba, ao preconceito oriundos das religiões afrodescendentes, estamos pouco inseridas nas pautas que exploram nossa intelectualidade. Num recorte, é possível afirmar que para a mulher negra ainda é mais árduo sobreviver que ao homem da mesma cor.
Reunir as mulheres negras para saudarmos nossas irmãs do esporte ou não e nos somarmos na grande marcha contra todas as formas de opressão e por uma sociedade justa, plena e de direitos iguais ainda é urgente.
No Brasil, somos 58 milhões de mulheres negras, urbanas, quilombolas e rurais . Somos orgulhosas de nossa ancestralidade, das tradições que passamos à frente e dos valores civilizacionais africanos, cujo patrimônio é nossa maior referência no enfrentamento da opressão desumanizadora a que estamos submetidas.
O laço que une cada uma de nós ao movimento de transformar o mundo nos dá sustentação e força para seguir neste caminho subversivo e coletivo de transformar o mundo enquanto transformamos a nós mesmas.
Nesse “Julho das Pretas” queremos celebrar e homenagear a força do ativismo das mulheres negras. Um julho diferente de todos os que vivemos nas últimas décadas no Brasil.
Fazer com que parcelas cada vez maiores da nossa sociedade rejeitem o racismo e reconheçam a negritude como um valor precioso à condição humana é um fenômeno produzido pela resistência, coragem e luta de muitas mulheres negras, ao longo da nossa história até hoje.
A história de superação de Daiane dos Santos, Rebeca Andrade, Rayssa Leal também é a nossa superação. A descoberta de quem mandou matar Marielle é uma causa de todas nós. Quando uma delas se levanta, todas nós nos levantamos.
Essas mulheres e meninas acalentam nossos corações e trazem esperança e afeto em meio a experiência de asfixia social vivida por nós mulheres negras travamos há séculos.
Viva a força, resistência e luta das mulheres negras!
Profa. Guilhermina Rocha, Especialista em educação pela Universidade Federal Fluminense ( UFF), Presidente do Sindicato dos professores de Macaé e Região ( Sinpro Macaé e Região)